terça-feira, 16 de agosto de 2011

Greve e "tutu" à mineira


Artigo escrito pelo poeta, escritor e jornalista Carlos Lúcio Gontijo


Os governantes brasileiros, pelo que nos revela e confirma a greve dos professores estaduais mineiros (de nível fundamental e médio), por aumento de salário, não dão a devida importância para o ensino básico, aquele que termina por dificultar o estabelecimento de universidades e faculdades de patamar de conhecimento mais elevado e mais capaz de suprir o mercado de trabalho com profissionais teoricamente mais bem preparados e, portanto, mais aptos a cumprir as exigências impostas pelos meios de produção amplamente informatizados.

Estranha e inexplicavelmente, o governo mineiro levou a greve dos professores estaduais, iniciada no dia 8 de junho de 2011, como se não estivesse acontecendo e espera vê-la terminada, na assembleia geral do dia 9 de agosto, como se não tivesse existido.  Apenas os alunos, ao final da querela, sofrerão as consequências, pois dificilmente o conteúdo didático poderá ser absorvido no espaço de uma reposição feita aos atropelos, sob a única ótica de preencher a carga horária e os dias letivos preconizados em lei.

É por fatos como esse que acreditamos que o Estado é a maior fonte de lições de violência, à medida que constantemente está a nos ensinar que uma vida não vale nada, conforme nos deixam claro os casos de cidadãos que morrem sem atendimento nas filas dos hospitais públicos, de pessoas que perdem suas vidas precocemente assassinadas pela falta de segurança nos espaços urbanos e rurais, como ocorre com os jovens atraídos pelos agentes do submundo das drogas, que se aproveitam do vazio proporcionado pela inexistência de política pública efetiva e tecnicamente voltada para motivação da juventude rumo à real viagem da vida em comunidade, que dispensa o uso de alucinógenos.

Assistimos aos meios de comunicação impressos reclamar da diminuição de leitores, colocando como fator principal o advento da internet, mas perguntamos nós: há quantos anos a carteira de assinantes de jornais é composta por gente com idade acima de 30 anos?  Qualquer vendedor de jornal em banca sabe que o leitor dos jornais envelheceu e escasseou bem antes da chegada da informação virtual, pois os veículos impressos jamais se preocuparam em influenciar para a estruturação de uma escola pública abrangente e de qualidade, na qual a filosofia de ensino se fizesse guiar pelo incentivo à leitura e pela determinação de entregar à sociedade um conjunto de cidadãos abastecidos de conhecimento e visão crítica de tudo que os rodeia. Não fosse assim, os meios de comunicação de Minas Gerais não teriam se nos apresentado, durante o longo transcorrer da greve, tão apáticos e desprovidos de opinião. Pode-se concluir que a greve não foi coberta, mas sim “encoberta”.

À classe dos professores vem sendo imputada toda a culpa, quando na verdade o governo mineiro, a parte mais forte, se fechou ao diálogo, maquiavelicamente esperando que o desgaste dos grevistas diante da clientela da escola pública, onde a imensa maioria não tinha (e não tem) como driblar a ameaça que pesava sobre os alunos, que poderia se encaminhar até para a perda do ano letivo.

O mesmo Estado que propaga a semente da desconsideração aos profissionais da educação, apesar de ungido pelo voto democrático das urnas eleitorais, não é suficientemente competente para conter as agressões de que os professores têm sido vítimas, chegando a ser desrespeitados tanto pelos alunos quanto pelos seus pais, que defendem os atos incivilizados de seus filhos.

Em síntese, a greve dos professores encerrar-se-á nesta quarta-feira, os professores, ainda que cabisbaixos e desmotivados, terão que encontrar forças para tentar repor os dias de greve, enfrentar (literalmente) os alunos e conviver com a propaganda diária do governo de Minas Gerais, um Estado do tamanho da França, divulgando que a economia estadual cresceu e que há dinheiro, metafórica, culinária e mineiramente falando, “tutu” para todo mundo. Claro, menos para o professor!

Fonte: Jornalistas de Minas

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